A super lua em Brasília; um presente que eu acabo de receber do fotografo Renato Cavalcante. A lua vista em Cordeiro, Salvador, Brasília, me traz tanta saudade, uma saudade das noites de luar e suas historias fascinantes, noites de canções e hoje noites de saudade. Lembro de uma canção que minha mãe costumava cantar para mim, nestas noites enluaradas. Eu era muito pequeno, a lua infinitamente grande e a vida sem limites... Minha avó também cantava... “Lua bonita me faz aborrecimento ver São Jorge num jumento pisando teu quilarão. Pra que casas-te com homem tão sisudo, que come dorme e faz tudo, dentro do teu coração? Lua bonita, meu São Jorge é teu senhor. É por isso que ele vive pisando teu esplendor. Deixa São Jorge no seu jubaio a montado, e vem cá para o meu lado pra gente viver sem dor.”



Recebi da minha amiga Vera Bandeira de Melo, uma foto da super lua em Salvador-BA. Ela fez esta fotografia, na varanda de sua residência, no bairro Vila Laura, onde fica minha Ex-Paróquia Jesus de Nazaré. Nossa Senhora do Silêncio; era assim que Fernando Pessoa chamava a lua. Tantas lembranças, tantas saudades, esta lua trouxe! Silenciosas lembranças de noites de luar e noites sem luar do lugar onde foi feita esta fotografia. Convivi com os moradores da Vila Laura durante oito anos e vinte e seis dias. “ Ah nossa senhora do silêncio, ó lua de memórias perdidas, sobre a negra paisagem do vazio da minha imperfeição, Debruço-me sobre o teu rosto branco nas águas noturnas do meu desassossego, no meu saber que és lua.”


Acabei de receber do meu amigo Wesley Gonçalves, esta foto da super lua em Cordeiro-RJ. Segundo ele, hoje é a ultima noite em que a lua vai aparecer neste formato. Linda lua! Fernando Pessoa a chamava de Nossa Senhora do Silencio. A lua vista de Cordeiro é um espetáculo deslumbrante! Quando eu morava lá, adorava as noites de lua cheia, porque podia ficar olhando a lua branca, e ouvindo a canção de Chiquinha Gonzaga, interpretada pela minha conterrânea Maria Bethânia. “Oh, lua branca de fulgores e de encanto, vem tirar dos olhos meus o pranto. Essa amargura do meu peito, oh, vem, arranca. Dá-me o luar de tua compaixão. Oh, vem, por Deus, iluminar meu coração. Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim.”



José Andrade

Alguns amigos e paroquianos me perguntaram qual a minha avaliação do filme “Deus não está morto.” Adoro cinema! Durante a minha pós-graduação em estudos culturais me habituei ir ao cinema toda semana e fazer resenha dos filmes que assistia. Longe de mim ser um critico de cinema, mas sou um admirador da sétima arte. Ontem assistir o filme e topei o desafio de avalia-lo imperfeitamente, porem coerentemente. A sinopse bem poderia ser: “Um aluno é desafiado por um professor a provar que Deus existe e lida com as dificuldades para atingir seu objetivo.” Nos créditos, o filme afirma que foi produzido em defesa de todos aqueles que foram perseguidos em instituições acadêmicas e cita julgados da corte norte-americana sobre o tema. Tal perseguição intelectual existe, o tema vale a discussão, porém o filme não se presta apenas à isso.
“Deus Não Está Morto”! Se “Deus Não Está Morto” fosse um filme realmente disposto a discutir a existência de Deus, o seu título não seria afirmativo e, sim, uma indagação. Como se trata de um filme evangélico – e lançado no Brasil pela distribuidora do missionário R.R. Soares. O foco do filme  parece ser  atingir pessoas marginais ao cristianismo, pintá-las como seres desprezíveis .  Ao assistir o professor Radisson (Kevin Sorbo) pareceu-me  um evangelista da TV; o executivo que usa as pessoas com qualquer charlatão da fé; e, por fim, o pai muçulmano que expulsa a filha convertida de casa, o tal deputado pastor, cujo nome rima com mulçumano que prega a tal da cura   gay.  
O filme não é ruim em tudo. Ele se sobressai em qualidade de roteiro, direção e fotografia, mas ainda peca nas continuidades, erros mínimos, mas que incomodam quando o roteiro é ruim, nesse caso, não afetou muito. Uma coisa que me incomodou e muito foram os extremismos usados para justificar os “efeitos x causas”, como namorada de Josh e o final do filme para Radisson. Acredito que a maior mensagem do filme não foi provar se Deus está ou não morto, mas foi mostrar que todo cristão deve estar disposto a aceitar desafios que testem sua fé e provem para as outras pessoas os motivos que nos levam a crer em Deus. (Mt 10:32-33).

O mérito que salva “Deus não está morto” é  trazer a tona a questão da liberdade religiosa, do direito de se crer em Deus, de viver a fé com todas as suas manifestações, de ser respeitado na sua crença, inclusive por ateus e agnósticos.  Hoje, esse debate precisa ser feito no Brasil. Diante das mudanças sociais e culturais que vem acontecendo em nosso país, especialmente com reflexos fortes da nossa legislação, aqueles que não pertencem ao cristianismo, católico ou não, precisam respeitar nosso direito de viver e praticar nossa fé. A liberdade religiosa num Estado laico, como é o brasileiro,  é um elemento fundamental para a verdade da  democracia e da  convivência cidadãs. Não se pode sair por ai destruindo símbolos e agredindo pessoas só por pertencerem a grupos religiosos. Também as igrejas e seus membros não devem realizar caças às bruxas. Viva a liberdade religiosa! 

Conheça a vida e obra da poetisa e educadora Mabel Velloso. A direção é de Margarida Mamede.



Dirigido por Margarida Mamede, o filme traz à tona a vida e a obra da educadora Mabel Velloso.

A baiana lecionou por mais de 40 anos em escolas públicas da cidade de Salvador e Santo Amaro da Purificação (BA). Publicou, ainda, mais de 30 livros, tocando em temas como o sagrado, a memória e os afetos. A mulher de alma fina e delicada tinha a vontade de modernizar o ensino e a relação entre estudantes e professores.

Maria Isabel é uma dos oito filhos de Dona Canô e a produção tem o intuito de abordar mais um talento da família. A partir de declarações da protagonista, o documentário relembra algumas histórias de sua trajetória pessoal e profissional, contando com depoimentos dos irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia, do amigo Gilberto Gil, de suas filhas, netos e muitos ex-alunos. O filme também apresenta alguns diálogos da retratada com sua mãe, viva à época.

Durante a exibição do longa-metragem, percebe-se o cuidado de Mabel com as questões humanas. A autora tornou-se uma figura singular, uma educadora à frente de seu tempo e uma poetisa profundamente ligada às suas raízes. Mabel comemorou 80 anos e sua trajetória construiu um registro vibrante, graças a um jeito simples e acolhedor.


 José Andrade

O escritor João Ubaldo Ribeiro, de 73 anos, morreu na madrugada da ultima sexta-feira, 18, vítima de uma embolia pulmonar. Ele era um escritor de grande qualidade, de obras maravilhosas como 'Viva o povo brasileiro', 'O sorriso do Lagarto' e 'Sargento Getúlio', além de ser um cronista sensacional. Que trabalho me deu a leitura de Viva o Povo Brasileiro! Achei que não conseguiria sair das primeiras páginas. Que alegria me deu a leitura de Viva o Povo Brasileiro! A compreensão e o amor pelo Brasil se ampliaram pelas histórias narradas nesse livro pela mão do João Ubaldo.
Não houve tempo sequer de assimilar a perda de João Ubaldo Ribeiro e mais uma triste notícia: Faleceu neste ultimo sábado, 19 de julho, Rubem Alves em Campinas (SP), aos 80 anos de idade. Ele era um dos maiores pensadores dos nossos tempos: o filósofo, teólogo, psicanalista, pedagogo e poeta. Poeta de todas as horas, já vivendo as dores da sua enfermidade, registrou estas palavras: «Sei que não me resta muito tempo! Já é crepúsculo! Não tenho medo da morte. O que sinto, na verdade, é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui… Escrever é o meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos…»
Ontem, segunda-feira 21, Ariano Suassuna, 87 anos, foi internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Real Hospital Português), após ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico. De acordo com os médicos, o estado de saúde do dramaturgo é considerado grave. “Eu digo sempre que das três virtudes teologais chamadas, eu sou fraco na fé e fraco na qualidade, só me resta a esperança. Eu sou o homem da esperança”, disse Ariano. Temos esperança que Deus protegerá a cultura e a literatura brasileira nesta hora de tristeza e agonia.





José Andrade

O circo acabou! Eu não gosto de futebol, mas sinto-me feliz. A copa do Brasil foi justa. Venceu a melhor seleção. A copa não foi comprada, conforme os alardes difamatórios dos inimigos da democracia. A presidenta Dilma Roussef não se intimidou com as vaias e xingamentos do jogo de abertura da Copa do Mundo e confirmou o que havia prometido: assistiu ao jogo final da Copa, no Maracanã e entregou a taça à Seleção Alemã, agora tetra campeã. Mesmo sendo alvo de novas vaias e até xingamentos, Dilma cumpriu o ritual dos chefes de Estado no Mundial.
As pessoas que foram ao Maracanã e vaiaram Dilma por que eram contra a Copa, o que foram fazer lá? Vaiaram por uma questão política, fora de hora e de lugar. Tratava-se de um evento esportivo e não político. Estas pessoas estavam se divertindo no maior espetáculo do mundo e depois vaiaram e xingaram quem o proporcionou!  Vaias compradas. Ingressos distribuídos de graça para um grupo grande de pessoas para vaiarem a Presidenta do Brasil. Matar a fome de milhares de pessoas com bolsa família é digno e honroso, porém, aceitar humilhar uma mulher por migalha é COVARDIA E VIOLÊNCIA.




José Andrade


Perdemos a Copa do Mundo! Eu já esperava por isso. Quem convive comigo, sabe que eu nunca acreditei que o Brasil fosse vencer a Alemanha.  Você sabe por que perdemos? Perdemos porque não somos mais os melhores do mundo. Existem outros países que jogam futebol melhor do que o nosso.  Definitivamente deixamos de ser o país do futebol. Hoje perdemos a Copa do Mundo, mas em outubro  haveremos de ganhar as eleições, porque,” verás que um filho teu não foge à luta. Nem teme, quem te adora, a própria morte.”


José Andrade


Não gosto de futebol. Raramente assisto um jogo, mas na Copa do Mundo eu me rendo a sedução do esporte mais popular do planeta. Um dos mil motivos que tenho para não gostar de futebol é a violência dentro e fora dos estádios. Hoje, durante o jogo Brasil e Colômbia, assistir o  colombiano Zuniga  fraturar a terceira vértebra lombar de Neymar. As imagens mostram que não foi um acidente de trabalho, foi intencional, com o joelho à frente, sem mirar a bola, apenas as costas de Neymar. Zuniga não foi expulso, não recebeu cartão amarelo, nem sequer foi admoestado pelo árbitro. Uma vertebra quebrada é pior que uma mordida. Será que a FIFA vai punir quem tirou de forma criminosa a chance deste menino, craque amado, de conquistar a Copa do Mundo?   



José Andrade

Hoje, ultimo dia do mês de junho e suas festas juninas. Mês de encantos, promessas, comidas, bebidas, danças, fogueiras, folguedos, musica e fogos que fazem acordar a terra e o céu. Acordou a minha memoria onde vivem as noites juninas da minha Bahia, tão esperadas na minha meninice. Mil vezes desejadas do que outra data. Queridas mais do que o Natal! Lá, no meu nordeste, faz parte dos nossos costumes, da nossa convivência desejar “Feliz São João.” Feliz São João, feliz quem é nordestino e guarda seus costumes e tradições.

Atualmente vivendo no Planalto Central eu experimento a riqueza das tradições e da cultuara local. E aqui tem cultura local? Tem um caldeirão cultural formado pela cultura de cada estado brasileiro, trazida pelos desbravadores destas planícies. Aqui tem um pouquinho das festas juninas nordestinas, trazidas por baianos, pernambucanos e paraibanos e tantos outros representantes da cultura do nordeste brasileiro. Enquanto fico aqui pensando no mês que está terminando, eu me recordo de uma das canções do pernambucano Luiz Gonzaga.

Esta canção embalou e continua a embalar minhas noites de São João: “Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo. Olha praquele balão multicor como no céu vai sumindo. Foi numa noite igual a esta que tu me deste o coração. O céu estava assim em festa, pois era noite de São João. Havia balões no ar. Xote, baião no salão. E no terreiro o teu olhar, que incendiou meu coração.” Salve o nordeste, salve o povo brasileiro! Oh salve o povo daqui!







José Régio

“Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou

- Sei que não vou por aí! 


José Andrade


E este olhar eterno que sempre me alcança? O que será feito dele? Me diz, como farei, quando eu estiver perdido em São Paulo. Era você que me ajudava a encontrar o destino certo. Bastava eu te ligar. As vezes, você vinha ao meu encontro no metrô. Será que alguma vez, eu serei capaz de andar na Paulista, sem me lembrar de você? Revi nossas conversas no bate-papo. O ano passado, após eu voltar do réveillon em Maceió lhe encontrei eufórico. Hoje voltei do réveillon em Salvador e lhe encontrei morto. Amigo, que loucura que é a vida!
Certo dia você escreveu: “Hoje passeando pela Paulista me lembrei de você. Adoraria te ver, conversar, ir à Livraria Cultura.” Amigo, não cumprir a promessa que lhe fiz. Fui a São Paulo duas vezes e nem lhe disse nada! Que vergonha que eu sinto! Às vezes, a gente acha que nunca vai morrer. Agora que a sua vida é vida imaginada, eu falo, imaginando-te me ouvir. Eu sei que me ouves!
Em fevereiro do ano passado você desabafou comigo: “Ando muito cansado, com olheiras... Quero que o mar leve tudo embora.” Você preferiu ir embora, descansar nos braços de Deus. Eu lhe compreendo. Quero que saiba que eu sempre lhe compreendi. Descanse em paz! Eu apenas lhe peço que continue olhando para mim com este olhar eterno que sempre me alcança. Quando eu estiver perdido em São Paulo ou em outra cidade vou chamar seu nome, Ed Rodrigo.


Amou daquele vez como se fosse a ultima... Dançou e gargalhou como se ouvisse música. E tropeçou no céu como se fosse um bêbado. E flutuou no ar como se fosse um pássaro. E se acabou no chão feito um pacote flácido. Agonizou no meio do passeio público. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.” (Chico Buarque)


José Andrade

Durante o período em que estive na Bahia, visitei a Fazenda Caçuçu. Na fotografia, a estrada que liga a casa do meu tio João e a casa da minha avó Dindinha. Por esta estrada caminharam meus avôs, meus pais, meus irmãos, meus tios e os meus primos. Eu mesmo caminhei nela, tantas vezes! Ela é uma metáfora da minha vida! “E se hoje não fosse essa estrada, se a noite não tivesse tanto atalho, o amanhã não fosse tão distante, solidão seria nada pra você. Meu reflexo não consigo ver na água, nem fazer canções sem nenhuma dor, nem ouvir o eco dos meus passos, nem lembrar meu nome quando alguém chamou. (Geraldo Azevedo). Caçuçu ainda estou aqui, dormindo em outras terras, mas não te esqueci. A chave do meu peito ainda está contigo. Muitos dos teus filhos não caminham mais nesta estrada, mas a digital do tempo imprimiu nela os nossos passos.



Luz, quero luz, nem que todos os barcos recolham ao cais, que os faróis da costeira me lancem sinais. Vida, minha vida, Olha o que é que eu fiz... (Chico Buarque)


José Andrade



Hoje, 19 de junho, a Igreja celebra a Solenidade de “Corpus Christi”, conhecida popularmente como Festa do Corpo de Deus. Segue o poema de Adélia Prado; “Festa do Corpo de Deus”. Ao escrever este poema ela não está preocupada em escrever teologia. Adélia escreve poesia, literatura, mas que cruza com a teologia. No seu texto podemos encontrar teologia e abstrair um novo sentido teológico que questiona as teologias tradicionais, quando estas negam o corpo, a sexualidade condicionando a submissão e a negação da mulher.

FESTA DO CORPO DE DEUS

Como um tumor maduro
a poesia pulsa dolorosa,
anunciando a paixão:
“Ó crux ave, spes única
Ó passiones tempore”.
Jesus tem um par de nádegas!
Mais que Javé na montanha
esta revelação me prostra.
Ó mistério, mistério,
suspenso no madeiro
o corpo humano de Deus.
É próprio do sexo o ar
que nos faunos velhos surpreendo,
em crianças supostamente pervertidas
e a que chamam dissoluto.
Nisto consiste o crime,
em fotografar uma mulher gozando
e dizer: eis a face do pecado.
Por séculos e séculos
os demônios porfiaram
em nos cegar com este embuste.
E teu corpo na cruz, suspenso.
E teu corpo na cruz, sem panos:
olha para mim.
Eu te adoro, ó salvador meu
que apaixonadamente me revelas
a inocência da carne.
Expondo-te como um fruto
nesta arvore de execração
o que dizer é amor,
amor do corpo, amor.
Ó mistério, mistério,
suspenso no madeiro
o corpo humano de Deus.
É próprio do sexo o ar
que nos faunos velhos surpreendo,
em crianças supostamente pervertidas
e a que chamam dissoluto.
Nisto consiste o crime,
em fotografar uma mulher gozando
e dizer: eis a face do pecado.
Por séculos e séculos
os demônios porfiaram
em nos cegar com este embuste.
E teu corpo na cruz, suspenso.
E teu corpo na cruz, sem panos:
olha para mim.
Eu te adoro, ó salvador meu
que apaixonadamente me revelas
a inocência da carne.
Expondo-te como um fruto
nesta arvore de execração
o que dizer é amor,
amor do corpo, amor.


José Andrade


Assistir, perplexo e atônito a Presidente do Brasil, Sra. Dilma Rousseff, ser xingada durante a abertura da copa do mundo. Trata-se de uma senhora de 67 anos, mãe, avó, que ali estava ao lado de sua filha única, cumprindo uma função protocolar do seu oficio. Senti-me constrangido e enternecido, quando um pedaço da multidão rosnou: “Ei Dilma vá tomar no c...” Constrangido porque ao meu lado estavam pessoas de outros países. Enternecido porque compreendi o desconforto daquela filha e daquela mãe. Quando Dilma foi exibida no telão do estádio vibrando com o segundo gol do Brasil, arrastou, solitariamente, uma segunda onda de xingamentos. Após a comemoração do terceiro gol, ela ouviu um derradeiro urro: “Ei, Dilma, etc…”
O que fizeram com Dilma no Itaquerão foi imperdoável. Ela foi vaiada na Copa das Confederações, mas vaiar autoridade em estádio parece parte do espetáculo. São preferíveis as vaias, a o silencio da ditadura, que a prendeu, durante dois anos e a torturou barbaramente. A mesma ditadura que prendeu, torturou e matou dezenas de brasileiros. A plateia do Itaquerão, formada por pessoas da classe media com grana para pagar ingressos caros, xingou a Presidente da Republica com palavrões de baixo escalão. Mais do que uma pose momentânea, uma presença física, o Presidente da Republica é uma faixa. Xinga-la significa ofender a instituição. O Xingamento realizado durante a abertura da copa foi transmitido em rede mundial, caracterizando-se como algo hediondo. O que a torcida fez, nesta ultima quinta-feira, foi informar ao mundo que o Brasil não é uma nação civilizada.
Muita gente achava que Dilma merecia uma reprimenda sonora. Mas a humilhação do xingamento transpassou a figura da presidente, atingindo a própria Presidência. Atingindo sua família e os milhares de brasileiros e brasileiras que se sentem representados por ela. Escrevo estes pensamentos, no dia em que completa 65 anos que Simone de Beauvoir, publicou seu livro “O Segundo Sexo.” Este livro explica a questão da formação da identidade feminina como sendo o resultado do que a sociedade espera da postura da mulher. Mais de meio século da publicação de “O Segundo Sexo,” o episodio vivido por Dilma Rousseff, nos faz constatar que as coisas não mudaram muito. A mulher ainda terá que lutar bastante para ser tratada e respeitada perante o homem, tendo o direito de se exprimir e de ascender socialmente por meio do seu trabalho.
Amigos, paroquianos, leitores, alguns de vocês não concordam com a atual politica da Presidente da Republica e nem com a ideologia do partido ao qual ela é filiada. Discordar com inteligência é útil e necessário. Faz bem a democracia. Não vejo nenhum problema em divergirmos. “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lá." (Voltaire) No dia da eleição, votem segundo a consciência de vocês, no candidato que julgarem justo e merecedor de ser votado. Eu, cidadão brasileiro, jornalista, sacerdote católico, consciente da minha responsabilidade de formador de opinião, repudio o triste episodio ocorrido durante a abertura da copa do mundo, me solidarizo com a presidente e a parabenizo pela sua declaração feita nesta sexta-feira a noite, durante evento realizado em Brasília. "Eu já aguentei muita coisa, agressão física, tortura, e não mudei de lado. E nem saí querendo acabar com as pessoas que fizeram. Não tive rechanchismo. Quem perdoa, ganha. E 'perdoa' não é esquecer, 'perdoa' não é discutir, 'perdoa' não é aceitar que se repita ou compactuar com isso. 'Perdoa' é não deixar que entre no seu coração o veneno do ódio. Esse veneno do ódio que nem eu e nem vocês podemos deixar entrar no coração", afirmou a presidente.





O próximo dia 13 é dia de Santo Antônio. “Trezena de junho é tempo sagrado na minha Bahia. Que seria de mim meu Deus sem a fé em Antônio? Antônio querido preciso do seu carinho se ando perdido mostra-me novo caminho. Nas tuas pegadas claras trilho o meu destino, estou nos teus braços como se fosse Deus menino. A luz desceu do céu clareando o encanto. Viva, viva meu santo!” (Jota Veloso).


Fernando Pessoa

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. 




A cada ano, uma romaria, uma oferenda, uma prenda, uma flor. A cada instante, um grão de alegria, lembranças do vosso amor. (Gilberto Gil)


José Andrade

Hoje ás 5 horas (horário de Brasília) o papa João Paulo ll será elevado aos altares, como o mais novo santo católico. Carismático, ás vezes moderno, ás vezes conservador, assim foi João Paulo ll. Tenho dois documentários sobre a vida dele. Sempre que me sinto abatido na minha caminhada de fé, eu os assisto. Meu animo e minha vocação se restabelece, mediante o testemunho de vida do papa polonês. Eu sempre o amei e admirei! Ele, o santo padre, e eu, o padre pecador. Karl Wojtyla botou o pé na estrada e percorreu milhões de quilômetros viajando da África às favelas do Nordeste. Levou seu corpo vivo como símbolo de uma espiritualidade perdida. O conjunto da obra dele foi muito além de ser contra ou a favor da camisinha. Por onde andou, João Paulo ll mostrou-se acima das sórdidas políticas seculares.
Conheci melhor São João Paulo ll , quando assisti a peça “Enlace, a loja do ourives” escrita por ele sob o pseudônimo de Andrzej Jawién. Hoje me dei conta de que o nosso novo santo foi poeta, escritor, ator e diretor de teatro. Chamou-me atenção o fato da sua peça não ter conotação religiosa e dele ter usado um pseudônimo para escrevê-la. É uma peça existencial. Trata-se de um drama sobre o amor humano entre o homem e a mulher, com os seus encantos e desencantos, união e separação, esperanças e medos.
O personagem Stanislaw, o ourives, é como um alterego do próprio autor (o papa) dessa obra, ao mesmo tempo um olhar narrador, uma espinha dorsal, uma presença clemente e sensível às questões humanas.
Assim era o homem Karl Wojtyla, assim foi o Papa João Paulo ll, assim será São João Paulo ll; clemente e sensível ás questões humanas.

Santo Padre, hoje, a Igreja proclama para o mundo inteiro a vossa santidade e o mundo vos venera com amor e devoção. Eu continuo sendo no mundo um padre pecador. Ajuda-me a ser como vós, clemente e sensível as questões humanas e fiel a Cristo. Junto à virgem Maria tomai-me pela mão e conduzi-me pela vida afora, até a hora da minha morte. Amém.


Na noite de quarta-feira (14), foram anunciados os vencedores do Prêmio da Música Brasileira de 2014. Na categoria "MPB", MARIA BETHÂNIA levou o prêmio de melhor cantora. Ela ganhou o premio pela 21ª vez. Voz da minha Bahia, orgulho da nossa gente. Agora, mesmo que distantes, ter o privilegio da sua amizade é oásis de Bethânia. Senhora! Parabéns!


José Andrade

Acho que não existe uma linha sequer de todos os livros que escrevi que não tenha relação com minha infância. A infância é a grande fonte de tudo o que escrevo, a nostalgia é a principal matéria-prima do que escrevo. Esta declaração é de Gabriel García Márquez, escritor colombiano, morto no ultimo dia 17 de abril. Ele foi um dos principais nomes da literatura latino-americana no século 20. Publicou livros que se tornaram celebres, entre eles, Cem Anos de Solidão; o único que eu li.
Ao ler Cem Anos de Solidão percebi o tamanho da solidão humana, que é irremediável, porém, adiável. Ao longo da nossa vida é possível perceber que muitas pessoas vão e muitas vêm só você fica. E essa é a intenção do livro, mostrar a solidão como algo inerente ao ser humano, que não é necessariamente um motivo de tristeza, mas sim de reflexão. É válido doar sua vida aos outros, apesar de tudo? Cem anos se passam, e nada fica. Um dos melhores livros que eu li. Minha gratidão a Gabriel García Márquez pelo legado deixado para a literatura mundial e pela contribuição do seu livro para o meu aprendizado.





José Andrade

Faz muito tempo que eu não compro um livro. O ultimo que eu comprei foi “Triangulo das Águas" do escritor Caio Fernando de Abreu, um dos meus favoritos. Isto já faz dois anos e alguns meses! Prometi a mim mesmo que só compraria um livro quando terminasse de ler os que têm na estante. Hoje, à tarde, entrei na Livraria Siciliana do Shopping Pátio Brasil, aqui em Brasília e dei de cara com Clarice Lispector e seus livros. Ela vive neles. Eu não resistir! Quem resistiria? Comprei o livro “As palavras”. Hoje eu vivendo tão distante da literatura, do espaço acadêmico e sem tempo para ler, o livro de Clarice é para mim um pouquinho de saúde na doença e descanso na loucura. “Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida", diz Clarice no seu livro. Salve Clarice Lispector!



José Andrade


UMA HOMENAGEM A BRASILIA QUE COMPLETOU HOJE 54 ANOS. PARABÉNS A CIDADE QUE ME ACOLHEU!
Brasília, sonho visionário, a realidade no coração do Planalto Central
Brasília, nave mãe do cerrado, lar dos filhos de todos os rincões
Brasília, corpo de concreto, braços longos de asfalto, cabeça erguida, olhos no futuro
Brasília, sorriso aberto, franco, convite silencioso, mão generosa acenando do alto
Brasília, sem esquinas, sem becos, mas de curvas exóticas insinuantes a seduzir suas visitas





Pedro Casadaliga

Cremos em Ti, Deus de todos os nomes,
presente em todas as culturas,
buscado por todos os corações,
Vida da vida e Amor do amor.


José Andrade

O outono começou oficialmente as 13 h e 57 min da ultima quinta-feira, mas quando eu cheguei a Brasília as 8 h 30 min do dia 22 de fevereiro, percebi suas características. O outono nos lembra a clássica imagem das árvores perdendo suas folhas. Mas você sabe por que acontece essa perda? Se as árvores não as deixassem ir, não sobreviveriam à próxima estação. As folhas se queimariam com o frio do inverno e, assim, os ciclos de respiração da árvore se findariam bruscamente, o que resultaria no fim da vida. A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua sabedoria: é preciso entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais para proteger.
Lembro agora as palavras de Tom Jobim: "São as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no meu coração". Mesmo que as águas pareçam dar fim ao melhor da festa do verão, na verdade, elas estão nos mostrando que a vida segue e novas estações virão!
Hoje completa um mês que eu cheguei ao Distrito Federal. É outono! É promessa de vida no meu coração.



Fernando Pessoa

Ave Maria, tão pura Virgem nunca maculada ouvi a prece tirada no meu peito da amargura. Vós que sois cheia de graça escutai minha oração, conduzi-me pela mão por esta vida que passa. O Senhor, que é vosso Filho, que seja sempre conosco, assim como é convosco eternamente seu brilho. Bendita sois vós, Maria, entre as mulheres da Terra e voss'alma só encerra doce imagem d'alegria. Mais radiante do que a luz e bendito, oh Santa Mãe é o Fruto que provém do vosso ventre, Jesus ! Ditosa Santa Maria, Vós que sois a Mãe de Deus e que morais lá no céus, orai por nós cada dia. Rogai por nós, pecadores, ao vosso Filho, Jesus, que por nós morreu na cruz e que sofreu tantas dores. Rogai, agora, oh Mãe querida e (quando quiser a sorte) na hora da nossa morte quando nos fugir a vida. Ave Maria, tão pura Virgem nunca maculada, ouvi a prece tirada no meu peito da amargura.

 
José Andrade

Salve dia 02 de novembro! Dia dos mortos... Hoje a saudade desenhou com linhas perfeitas o perfil exato dos meus familiares e amigos mortos. Senti levemente o vento das horas balançando os nossos cabelos. Foi preciso a saudade para eu sentir como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida. Vida imaginada! Olhei para vida como quem abre uma janela para olhar o mundo. Os rostos dos meus avós, dos meus pais, do meu irmão, dos meus tios, dos meus primos, dos meus amigos, os rostos... Estes rostos desenhados pelas linhas da saudade são tão outros, que em nada se parecem com os dos retratos! Eu tenho de fechar meus olhos para vê-los.