José Andrade

Hoje, ultimo dia do mês de junho e suas festas juninas. Mês de encantos, promessas, comidas, bebidas, danças, fogueiras, folguedos, musica e fogos que fazem acordar a terra e o céu. Acordou a minha memoria onde vivem as noites juninas da minha Bahia, tão esperadas na minha meninice. Mil vezes desejadas do que outra data. Queridas mais do que o Natal! Lá, no meu nordeste, faz parte dos nossos costumes, da nossa convivência desejar “Feliz São João.” Feliz São João, feliz quem é nordestino e guarda seus costumes e tradições.

Atualmente vivendo no Planalto Central eu experimento a riqueza das tradições e da cultuara local. E aqui tem cultura local? Tem um caldeirão cultural formado pela cultura de cada estado brasileiro, trazida pelos desbravadores destas planícies. Aqui tem um pouquinho das festas juninas nordestinas, trazidas por baianos, pernambucanos e paraibanos e tantos outros representantes da cultura do nordeste brasileiro. Enquanto fico aqui pensando no mês que está terminando, eu me recordo de uma das canções do pernambucano Luiz Gonzaga.

Esta canção embalou e continua a embalar minhas noites de São João: “Olha pro céu, meu amor, vê como ele está lindo. Olha praquele balão multicor como no céu vai sumindo. Foi numa noite igual a esta que tu me deste o coração. O céu estava assim em festa, pois era noite de São João. Havia balões no ar. Xote, baião no salão. E no terreiro o teu olhar, que incendiou meu coração.” Salve o nordeste, salve o povo brasileiro! Oh salve o povo daqui!







José Régio

“Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou

- Sei que não vou por aí! 


José Andrade


E este olhar eterno que sempre me alcança? O que será feito dele? Me diz, como farei, quando eu estiver perdido em São Paulo. Era você que me ajudava a encontrar o destino certo. Bastava eu te ligar. As vezes, você vinha ao meu encontro no metrô. Será que alguma vez, eu serei capaz de andar na Paulista, sem me lembrar de você? Revi nossas conversas no bate-papo. O ano passado, após eu voltar do réveillon em Maceió lhe encontrei eufórico. Hoje voltei do réveillon em Salvador e lhe encontrei morto. Amigo, que loucura que é a vida!
Certo dia você escreveu: “Hoje passeando pela Paulista me lembrei de você. Adoraria te ver, conversar, ir à Livraria Cultura.” Amigo, não cumprir a promessa que lhe fiz. Fui a São Paulo duas vezes e nem lhe disse nada! Que vergonha que eu sinto! Às vezes, a gente acha que nunca vai morrer. Agora que a sua vida é vida imaginada, eu falo, imaginando-te me ouvir. Eu sei que me ouves!
Em fevereiro do ano passado você desabafou comigo: “Ando muito cansado, com olheiras... Quero que o mar leve tudo embora.” Você preferiu ir embora, descansar nos braços de Deus. Eu lhe compreendo. Quero que saiba que eu sempre lhe compreendi. Descanse em paz! Eu apenas lhe peço que continue olhando para mim com este olhar eterno que sempre me alcança. Quando eu estiver perdido em São Paulo ou em outra cidade vou chamar seu nome, Ed Rodrigo.


Amou daquele vez como se fosse a ultima... Dançou e gargalhou como se ouvisse música. E tropeçou no céu como se fosse um bêbado. E flutuou no ar como se fosse um pássaro. E se acabou no chão feito um pacote flácido. Agonizou no meio do passeio público. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.” (Chico Buarque)


José Andrade

Durante o período em que estive na Bahia, visitei a Fazenda Caçuçu. Na fotografia, a estrada que liga a casa do meu tio João e a casa da minha avó Dindinha. Por esta estrada caminharam meus avôs, meus pais, meus irmãos, meus tios e os meus primos. Eu mesmo caminhei nela, tantas vezes! Ela é uma metáfora da minha vida! “E se hoje não fosse essa estrada, se a noite não tivesse tanto atalho, o amanhã não fosse tão distante, solidão seria nada pra você. Meu reflexo não consigo ver na água, nem fazer canções sem nenhuma dor, nem ouvir o eco dos meus passos, nem lembrar meu nome quando alguém chamou. (Geraldo Azevedo). Caçuçu ainda estou aqui, dormindo em outras terras, mas não te esqueci. A chave do meu peito ainda está contigo. Muitos dos teus filhos não caminham mais nesta estrada, mas a digital do tempo imprimiu nela os nossos passos.



Luz, quero luz, nem que todos os barcos recolham ao cais, que os faróis da costeira me lancem sinais. Vida, minha vida, Olha o que é que eu fiz... (Chico Buarque)


José Andrade



Hoje, 19 de junho, a Igreja celebra a Solenidade de “Corpus Christi”, conhecida popularmente como Festa do Corpo de Deus. Segue o poema de Adélia Prado; “Festa do Corpo de Deus”. Ao escrever este poema ela não está preocupada em escrever teologia. Adélia escreve poesia, literatura, mas que cruza com a teologia. No seu texto podemos encontrar teologia e abstrair um novo sentido teológico que questiona as teologias tradicionais, quando estas negam o corpo, a sexualidade condicionando a submissão e a negação da mulher.

FESTA DO CORPO DE DEUS

Como um tumor maduro
a poesia pulsa dolorosa,
anunciando a paixão:
“Ó crux ave, spes única
Ó passiones tempore”.
Jesus tem um par de nádegas!
Mais que Javé na montanha
esta revelação me prostra.
Ó mistério, mistério,
suspenso no madeiro
o corpo humano de Deus.
É próprio do sexo o ar
que nos faunos velhos surpreendo,
em crianças supostamente pervertidas
e a que chamam dissoluto.
Nisto consiste o crime,
em fotografar uma mulher gozando
e dizer: eis a face do pecado.
Por séculos e séculos
os demônios porfiaram
em nos cegar com este embuste.
E teu corpo na cruz, suspenso.
E teu corpo na cruz, sem panos:
olha para mim.
Eu te adoro, ó salvador meu
que apaixonadamente me revelas
a inocência da carne.
Expondo-te como um fruto
nesta arvore de execração
o que dizer é amor,
amor do corpo, amor.
Ó mistério, mistério,
suspenso no madeiro
o corpo humano de Deus.
É próprio do sexo o ar
que nos faunos velhos surpreendo,
em crianças supostamente pervertidas
e a que chamam dissoluto.
Nisto consiste o crime,
em fotografar uma mulher gozando
e dizer: eis a face do pecado.
Por séculos e séculos
os demônios porfiaram
em nos cegar com este embuste.
E teu corpo na cruz, suspenso.
E teu corpo na cruz, sem panos:
olha para mim.
Eu te adoro, ó salvador meu
que apaixonadamente me revelas
a inocência da carne.
Expondo-te como um fruto
nesta arvore de execração
o que dizer é amor,
amor do corpo, amor.


José Andrade


Assistir, perplexo e atônito a Presidente do Brasil, Sra. Dilma Rousseff, ser xingada durante a abertura da copa do mundo. Trata-se de uma senhora de 67 anos, mãe, avó, que ali estava ao lado de sua filha única, cumprindo uma função protocolar do seu oficio. Senti-me constrangido e enternecido, quando um pedaço da multidão rosnou: “Ei Dilma vá tomar no c...” Constrangido porque ao meu lado estavam pessoas de outros países. Enternecido porque compreendi o desconforto daquela filha e daquela mãe. Quando Dilma foi exibida no telão do estádio vibrando com o segundo gol do Brasil, arrastou, solitariamente, uma segunda onda de xingamentos. Após a comemoração do terceiro gol, ela ouviu um derradeiro urro: “Ei, Dilma, etc…”
O que fizeram com Dilma no Itaquerão foi imperdoável. Ela foi vaiada na Copa das Confederações, mas vaiar autoridade em estádio parece parte do espetáculo. São preferíveis as vaias, a o silencio da ditadura, que a prendeu, durante dois anos e a torturou barbaramente. A mesma ditadura que prendeu, torturou e matou dezenas de brasileiros. A plateia do Itaquerão, formada por pessoas da classe media com grana para pagar ingressos caros, xingou a Presidente da Republica com palavrões de baixo escalão. Mais do que uma pose momentânea, uma presença física, o Presidente da Republica é uma faixa. Xinga-la significa ofender a instituição. O Xingamento realizado durante a abertura da copa foi transmitido em rede mundial, caracterizando-se como algo hediondo. O que a torcida fez, nesta ultima quinta-feira, foi informar ao mundo que o Brasil não é uma nação civilizada.
Muita gente achava que Dilma merecia uma reprimenda sonora. Mas a humilhação do xingamento transpassou a figura da presidente, atingindo a própria Presidência. Atingindo sua família e os milhares de brasileiros e brasileiras que se sentem representados por ela. Escrevo estes pensamentos, no dia em que completa 65 anos que Simone de Beauvoir, publicou seu livro “O Segundo Sexo.” Este livro explica a questão da formação da identidade feminina como sendo o resultado do que a sociedade espera da postura da mulher. Mais de meio século da publicação de “O Segundo Sexo,” o episodio vivido por Dilma Rousseff, nos faz constatar que as coisas não mudaram muito. A mulher ainda terá que lutar bastante para ser tratada e respeitada perante o homem, tendo o direito de se exprimir e de ascender socialmente por meio do seu trabalho.
Amigos, paroquianos, leitores, alguns de vocês não concordam com a atual politica da Presidente da Republica e nem com a ideologia do partido ao qual ela é filiada. Discordar com inteligência é útil e necessário. Faz bem a democracia. Não vejo nenhum problema em divergirmos. “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lá." (Voltaire) No dia da eleição, votem segundo a consciência de vocês, no candidato que julgarem justo e merecedor de ser votado. Eu, cidadão brasileiro, jornalista, sacerdote católico, consciente da minha responsabilidade de formador de opinião, repudio o triste episodio ocorrido durante a abertura da copa do mundo, me solidarizo com a presidente e a parabenizo pela sua declaração feita nesta sexta-feira a noite, durante evento realizado em Brasília. "Eu já aguentei muita coisa, agressão física, tortura, e não mudei de lado. E nem saí querendo acabar com as pessoas que fizeram. Não tive rechanchismo. Quem perdoa, ganha. E 'perdoa' não é esquecer, 'perdoa' não é discutir, 'perdoa' não é aceitar que se repita ou compactuar com isso. 'Perdoa' é não deixar que entre no seu coração o veneno do ódio. Esse veneno do ódio que nem eu e nem vocês podemos deixar entrar no coração", afirmou a presidente.





O próximo dia 13 é dia de Santo Antônio. “Trezena de junho é tempo sagrado na minha Bahia. Que seria de mim meu Deus sem a fé em Antônio? Antônio querido preciso do seu carinho se ando perdido mostra-me novo caminho. Nas tuas pegadas claras trilho o meu destino, estou nos teus braços como se fosse Deus menino. A luz desceu do céu clareando o encanto. Viva, viva meu santo!” (Jota Veloso).


Fernando Pessoa

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quise'ssemos, trocar beijos e abrac,os e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço. 




A cada ano, uma romaria, uma oferenda, uma prenda, uma flor. A cada instante, um grão de alegria, lembranças do vosso amor. (Gilberto Gil)


José Andrade

Hoje ás 5 horas (horário de Brasília) o papa João Paulo ll será elevado aos altares, como o mais novo santo católico. Carismático, ás vezes moderno, ás vezes conservador, assim foi João Paulo ll. Tenho dois documentários sobre a vida dele. Sempre que me sinto abatido na minha caminhada de fé, eu os assisto. Meu animo e minha vocação se restabelece, mediante o testemunho de vida do papa polonês. Eu sempre o amei e admirei! Ele, o santo padre, e eu, o padre pecador. Karl Wojtyla botou o pé na estrada e percorreu milhões de quilômetros viajando da África às favelas do Nordeste. Levou seu corpo vivo como símbolo de uma espiritualidade perdida. O conjunto da obra dele foi muito além de ser contra ou a favor da camisinha. Por onde andou, João Paulo ll mostrou-se acima das sórdidas políticas seculares.
Conheci melhor São João Paulo ll , quando assisti a peça “Enlace, a loja do ourives” escrita por ele sob o pseudônimo de Andrzej Jawién. Hoje me dei conta de que o nosso novo santo foi poeta, escritor, ator e diretor de teatro. Chamou-me atenção o fato da sua peça não ter conotação religiosa e dele ter usado um pseudônimo para escrevê-la. É uma peça existencial. Trata-se de um drama sobre o amor humano entre o homem e a mulher, com os seus encantos e desencantos, união e separação, esperanças e medos.
O personagem Stanislaw, o ourives, é como um alterego do próprio autor (o papa) dessa obra, ao mesmo tempo um olhar narrador, uma espinha dorsal, uma presença clemente e sensível às questões humanas.
Assim era o homem Karl Wojtyla, assim foi o Papa João Paulo ll, assim será São João Paulo ll; clemente e sensível ás questões humanas.

Santo Padre, hoje, a Igreja proclama para o mundo inteiro a vossa santidade e o mundo vos venera com amor e devoção. Eu continuo sendo no mundo um padre pecador. Ajuda-me a ser como vós, clemente e sensível as questões humanas e fiel a Cristo. Junto à virgem Maria tomai-me pela mão e conduzi-me pela vida afora, até a hora da minha morte. Amém.


Na noite de quarta-feira (14), foram anunciados os vencedores do Prêmio da Música Brasileira de 2014. Na categoria "MPB", MARIA BETHÂNIA levou o prêmio de melhor cantora. Ela ganhou o premio pela 21ª vez. Voz da minha Bahia, orgulho da nossa gente. Agora, mesmo que distantes, ter o privilegio da sua amizade é oásis de Bethânia. Senhora! Parabéns!


José Andrade

Acho que não existe uma linha sequer de todos os livros que escrevi que não tenha relação com minha infância. A infância é a grande fonte de tudo o que escrevo, a nostalgia é a principal matéria-prima do que escrevo. Esta declaração é de Gabriel García Márquez, escritor colombiano, morto no ultimo dia 17 de abril. Ele foi um dos principais nomes da literatura latino-americana no século 20. Publicou livros que se tornaram celebres, entre eles, Cem Anos de Solidão; o único que eu li.
Ao ler Cem Anos de Solidão percebi o tamanho da solidão humana, que é irremediável, porém, adiável. Ao longo da nossa vida é possível perceber que muitas pessoas vão e muitas vêm só você fica. E essa é a intenção do livro, mostrar a solidão como algo inerente ao ser humano, que não é necessariamente um motivo de tristeza, mas sim de reflexão. É válido doar sua vida aos outros, apesar de tudo? Cem anos se passam, e nada fica. Um dos melhores livros que eu li. Minha gratidão a Gabriel García Márquez pelo legado deixado para a literatura mundial e pela contribuição do seu livro para o meu aprendizado.





José Andrade

Faz muito tempo que eu não compro um livro. O ultimo que eu comprei foi “Triangulo das Águas" do escritor Caio Fernando de Abreu, um dos meus favoritos. Isto já faz dois anos e alguns meses! Prometi a mim mesmo que só compraria um livro quando terminasse de ler os que têm na estante. Hoje, à tarde, entrei na Livraria Siciliana do Shopping Pátio Brasil, aqui em Brasília e dei de cara com Clarice Lispector e seus livros. Ela vive neles. Eu não resistir! Quem resistiria? Comprei o livro “As palavras”. Hoje eu vivendo tão distante da literatura, do espaço acadêmico e sem tempo para ler, o livro de Clarice é para mim um pouquinho de saúde na doença e descanso na loucura. “Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida", diz Clarice no seu livro. Salve Clarice Lispector!



José Andrade


UMA HOMENAGEM A BRASILIA QUE COMPLETOU HOJE 54 ANOS. PARABÉNS A CIDADE QUE ME ACOLHEU!
Brasília, sonho visionário, a realidade no coração do Planalto Central
Brasília, nave mãe do cerrado, lar dos filhos de todos os rincões
Brasília, corpo de concreto, braços longos de asfalto, cabeça erguida, olhos no futuro
Brasília, sorriso aberto, franco, convite silencioso, mão generosa acenando do alto
Brasília, sem esquinas, sem becos, mas de curvas exóticas insinuantes a seduzir suas visitas





Pedro Casadaliga

Cremos em Ti, Deus de todos os nomes,
presente em todas as culturas,
buscado por todos os corações,
Vida da vida e Amor do amor.


José Andrade

O outono começou oficialmente as 13 h e 57 min da ultima quinta-feira, mas quando eu cheguei a Brasília as 8 h 30 min do dia 22 de fevereiro, percebi suas características. O outono nos lembra a clássica imagem das árvores perdendo suas folhas. Mas você sabe por que acontece essa perda? Se as árvores não as deixassem ir, não sobreviveriam à próxima estação. As folhas se queimariam com o frio do inverno e, assim, os ciclos de respiração da árvore se findariam bruscamente, o que resultaria no fim da vida. A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua sabedoria: é preciso entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais para proteger.
Lembro agora as palavras de Tom Jobim: "São as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no meu coração". Mesmo que as águas pareçam dar fim ao melhor da festa do verão, na verdade, elas estão nos mostrando que a vida segue e novas estações virão!
Hoje completa um mês que eu cheguei ao Distrito Federal. É outono! É promessa de vida no meu coração.



Fernando Pessoa

Ave Maria, tão pura Virgem nunca maculada ouvi a prece tirada no meu peito da amargura. Vós que sois cheia de graça escutai minha oração, conduzi-me pela mão por esta vida que passa. O Senhor, que é vosso Filho, que seja sempre conosco, assim como é convosco eternamente seu brilho. Bendita sois vós, Maria, entre as mulheres da Terra e voss'alma só encerra doce imagem d'alegria. Mais radiante do que a luz e bendito, oh Santa Mãe é o Fruto que provém do vosso ventre, Jesus ! Ditosa Santa Maria, Vós que sois a Mãe de Deus e que morais lá no céus, orai por nós cada dia. Rogai por nós, pecadores, ao vosso Filho, Jesus, que por nós morreu na cruz e que sofreu tantas dores. Rogai, agora, oh Mãe querida e (quando quiser a sorte) na hora da nossa morte quando nos fugir a vida. Ave Maria, tão pura Virgem nunca maculada, ouvi a prece tirada no meu peito da amargura.

 
José Andrade

Salve dia 02 de novembro! Dia dos mortos... Hoje a saudade desenhou com linhas perfeitas o perfil exato dos meus familiares e amigos mortos. Senti levemente o vento das horas balançando os nossos cabelos. Foi preciso a saudade para eu sentir como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida. Vida imaginada! Olhei para vida como quem abre uma janela para olhar o mundo. Os rostos dos meus avós, dos meus pais, do meu irmão, dos meus tios, dos meus primos, dos meus amigos, os rostos... Estes rostos desenhados pelas linhas da saudade são tão outros, que em nada se parecem com os dos retratos! Eu tenho de fechar meus olhos para vê-los.