Chico Buarque

Solidăo năo é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo....
Isto é carência.
Solid
ăo năo é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que năo podem mais voltar.....
Isto é saudade.
Solid
ăo năo é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos.....
Isto é equilíbrio.
Solid
ăo năo é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida.....
Isto é um princípio da natureza.
Solid
ăo năo é o vazio de gente ao nosso lado.....
Isto é circunstância.
Solid
ăo é muito mais do que isto...
Solid
ăo é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em văo pela nossa alma .....




José Andrade

Mario Quintana, o bom velhinho de Porto Alegre, disse em um dos seus poemas: “Antes todos os caminhos iam, agora, todos os caminhos vão.” Atualmente, simplesmente, não há caminho. Há apenas vontade de caminhar... A vontade ainda existe, embora muito dela já tenha se perdido nos momentos escondidos na lembrança.  Mas para onde ir, quando o caminho é uma incógnita, uma abreviação do itinerário previsto na geologia encantada das horas que foram e que vão?   Não há caminho que possa ir agora pelo mundo afora. O meu tempo é agora. E quando não há nada a fazer, nem caminho a seguir resta apenas acreditar que um dia vamos encontrar o caminho.



José Andrade

A pessoa através da qual eu fiquei sabendo da morte de Nelson Francisco é a mesma que me apresentou João Manoel. A inexistência de um e a existência de outro chegaram a mim através das mãos de uma mesma pessoa. A vida e a morte vieram de um mesmo lugar, percorreram o mesmo caminho e chegaram ao mesmo destino. Subverteram a ordem da natureza; a vida chegou por ultimo. A vida de João Manoel vem do universo virtual... Mas quem disse que não é vida real? Qual a diferença que existe entre virtual, real e espiritual? Enquanto esta pergunta não for respondida eu recuso-me acreditar em simples coincidência...



José Andrade

Antes de eu dormir fui-me certificar se a porta da hospedaria estava bem fechada. Atravessei o corredor fazendo um tremendo esforço para amenizar o eco dos meus passos. O piso de madeira e a acústica do lugar causavam-me a impressão de que eu estava andando acompanhado. Por um instante pensei que não seria bom eu está sozinho num lugar como aquele.  Mas quem é  que caminha comigo, se quando olho ao meu redor não vejo ninguém? 
A porta e o conjunto de janelas vermelhas sobre a parede de ladrilho é uma herança da arquitetura búlgara. A bela hospedaria a àquela hora da noite descansava coberta pelas sombras dos pinheiros erguidos majestosamente ao pé do mosteiro. Eu sabia que estava protegido pelos muros que cercavam aquela bela propriedade Ah! Os muros que nos protegem...  Penso sempre neles! Às vezes nos aprisionam, mas depois de certo tempo nos acostumamos com eles e por ultimo não sabemos mais viver sem eles.



 José Andrade

Prefiro não cumprir o ritual convencional dos aniversários! Concordo com Rubem Alves, quando ele diz que “a celebração de mais um ano de vida é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, que não mais existe.” O gesto de soprar as velas em festa de aniversário é uma metáfora de mais um ano de vida que chegou ao fim. Se uma vela acesa é símbolo de vida, uma vez apagada ela se torna símbolo de morte. No meu aniversário eu não ganho um ano de vida, ao contrário, eu perco  ano de vida. Minha fisiologia comprova que dos anos que Deus me concedeu viver, eu já perdi vários deles. Isto me entristece!Fósforo que foi riscado, nunca mais acenderá!
Convém esclarecer que minha preferência pela reclusão no dia do meu aniversário não é um desgostar da vida nem tão pouco um distanciamento das pessoas que dela fazem parte.  É para contemplar o mistério da vida na intimidade de um dia que lembra outro dia em que Deus me chamou a existência. São dias lindos os da minha existência!  Lembrei-me agora de uma frase de Carlos Drummond de Andrade, diz: Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: Os dias ficaram lindos".
Sabem por que meus dias ficaram lindos?  Eu lhes respondo: l - Sempre acreditei que Deus é um Pai Amoroso, assim como era o meu pai biológico. ll - Nasci seguro numa família que me educou para que eu fosse corajoso e honesto no falar e no agir. lll - A vida é generosa e boa, dela recebi grandes amigos, sem os quais eu não teria chegado aonde cheguei.
 Os seus dias também irão ficar lindos! Olhe, não esqueça: Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: Os dias ficaram lindos".