José Andrade

Na escuridão da noite morna, salpicada pelas luzes do paço da cidade, eu passo despercebido pela multidão, caminhando em desalinho com os meus próprios passos. As ondas declamam o poema do mar aberto. Ó ondas, ò mar, ó ventos que soprais a métrica do poema da minha vida, revelai o segredo dos meus dias. Atirai-me ao abismo das horas como uma conchinha atirada ao nada. Nada sou, nada sei da palavra fácil, que confabula com os coqueiros o segredo daquele menino cujo choro já não se ouve. Dai-me tua palavra, teu verso, teu silencio, teu poema, pois esta é minha praia.

  
José Andrade

Quiririm, rio das chuvas, das águas
Rio das águas mansas de sonhos e de sol
Rio das águas, longas amargas magoas
Vagas chuvas enchendo o rio que deságua em mim
O teu rio Quiririm é melhor do que o de Fernando Pessoa.


José Andrade
Bem Belém, a vida vai e vem
É uma estação de trem, solitária, sem ninguém.
Bem Belém, a vida nem sempre é o que convém
Convenhamos nós, cada um vale o que tem
 E às vezes o que não tem.
Bem Belém, tuas tardes mornas,
Tuas noites perfumadas são minhas também.
Senhora da floresta, cidade dengosa,
Tu sabes o quanto de quero bem.
Belém, meu bem, teus sinos me olham.
Teu povo me benze.
Os anjos na basílica tocam trombetas
E dizem Amém.