José Andrade
Por traz do universo das palavras onde à liberdade é preservada existe um lugar onde eu sempre te encontro. Às vezes durante a noite, outras vezes durante o dia, mas nele tu repartes comigo teu sonho cristalizado numa gota de orvalho irreverente ao calor e a devastação do tempo. Tu que habitas um mundo inacessível para além dos confins de outros mundos, onde dormem os poemas. Trazei teu bom conselho para que eu mim guie nas fendas da poesia que jaz adormecida em teu peito. Desperta poeta, desperte a régua e o compasso com os quais traçaras rimas e versos umedecidos com lagrimas que banharão tua face. O orvalho das manhãs por vezes será a tinta com a qual escreverás teus poemas.

Na escuridão da noite morna, salpicada pelas luzes do paço da cidade, eu passo pelo calçadão da Praia de Atalaia, caminhando em desalinho num compasso ritmado dos teus passos como métrica de um poema declamado pelas ondas do mar aberto. Alinhado ao que guardas no escaninho da alma de menino, quase meu conterrâneo e poeta, caminhas já próximo da tua chegada. Artífice da palavra fácil, livre, solta que ainda dorme no teu peito. Abri as portas do teu castelo interior e deixai que elas saiam pela tua boca e pelas tuas mãos. Deixai-as livres a brincar e a rolar na areia formando o castelo onde cada esperança é preservada. Deixai que o teu universo poético possa ser descoberto por quem gosta de poesia e por quem dela precisa.