José Andrade
 
A rua larga, vaga, magoa da tua ausência cinza. A tarde atravessa-me os olhos, ofusca-me os sentidos. Tudo faz sentido, os mínimos gestos contidos, as folhas  vagando pelas ruas, os gritos, os bêbados, as crianças... Quais são as minhas esperanças?

As casas encolhidas sob nuvens grossas, gemem, temem o estampido vindo do ventre da terra.  Teu corpo emoldurado pelas portas e janelas, sentinela, vela a rua, cinza das horas. Não é o teu, mas o meu corpo na moldura, sentinela, rua larga...
A tarde atravessa meus olhos, ofusca-me os sentidos... Meu Deus! Tudo agora faz sentido!



José Andrade

Estendeu-se diante dos meus olhos o tapete cinza, rígido, cortando o verde da mata e o branco da neblina.  Duro como ferro é o asfalto da estrada que sobe desce a Serra do Mar. Não é estrada de ferro, é estrada de “Caraguá.” Caraguatatuba teu nome significa enseada com altos e baixos. Tua estrada denuncia o teu nome e os altos e baixos da vida que a gente vive.

Passou o tempo e eis que te encontro em meio aos altos e baixos da minha vida. Tu não eis nem mais e nem menos do que quando éramos próximos. Vejo-te novamente aos pés da serra que te cerca e te esconde, unindo-te ao mar no indissolúvel matrimonio celebrado pela natureza. Mar de Caraguá o tempo finge passar devagar só para nos enganar.