José Andrade
Alguns amigos e paroquianos me
perguntaram qual a minha avaliação do filme “Deus não está morto.” Adoro
cinema! Durante a minha pós-graduação em estudos culturais me habituei ir ao
cinema toda semana e fazer resenha dos filmes que assistia. Longe de mim ser um
critico de cinema, mas sou um admirador da sétima arte. Ontem assistir o filme
e topei o desafio de avalia-lo imperfeitamente, porem coerentemente. A sinopse
bem poderia ser: “Um aluno é desafiado por um professor a provar que Deus
existe e lida com as dificuldades para atingir seu objetivo.” Nos créditos, o
filme afirma que foi produzido em defesa de todos aqueles que foram perseguidos
em instituições acadêmicas e cita julgados da corte norte-americana sobre o
tema. Tal perseguição intelectual existe, o tema vale a discussão, porém o
filme não se presta apenas à isso.
“Deus Não Está Morto”! Se “Deus
Não Está Morto” fosse um filme realmente disposto a discutir a existência de
Deus, o seu título não seria afirmativo e, sim, uma indagação. Como se trata de
um filme evangélico – e lançado no Brasil pela distribuidora do missionário
R.R. Soares. O foco do filme parece ser atingir pessoas marginais ao cristianismo,
pintá-las como seres desprezíveis . Ao
assistir o professor Radisson (Kevin Sorbo) pareceu-me um evangelista da TV; o executivo que usa as
pessoas com qualquer charlatão da fé; e, por fim, o pai muçulmano que expulsa a
filha convertida de casa, o tal deputado pastor, cujo nome rima com mulçumano
que prega a tal da cura gay.
O filme não é ruim em tudo. Ele se
sobressai em qualidade de roteiro, direção e fotografia, mas ainda peca nas
continuidades, erros mínimos, mas que incomodam quando o roteiro é ruim, nesse
caso, não afetou muito. Uma coisa que me incomodou e muito foram os extremismos
usados para justificar os “efeitos x causas”, como namorada de Josh e o final
do filme para Radisson. Acredito que a maior mensagem do filme não foi provar
se Deus está ou não morto, mas foi mostrar que todo cristão deve estar disposto
a aceitar desafios que testem sua fé e provem para as outras pessoas os motivos
que nos levam a crer em Deus. (Mt 10:32-33).
O mérito que salva “Deus não está
morto” é trazer a tona a questão da
liberdade religiosa, do direito de se crer em Deus, de viver a fé com todas as
suas manifestações, de ser respeitado na sua crença, inclusive por ateus e
agnósticos. Hoje, esse debate precisa
ser feito no Brasil. Diante das mudanças sociais e culturais que vem
acontecendo em nosso país, especialmente com reflexos fortes da nossa
legislação, aqueles que não pertencem ao cristianismo, católico ou não,
precisam respeitar nosso direito de viver e praticar nossa fé. A liberdade
religiosa num Estado laico, como é o brasileiro, é um elemento fundamental para a verdade da democracia e da convivência cidadãs. Não se pode sair por ai
destruindo símbolos e agredindo pessoas só por pertencerem a grupos religiosos.
Também as igrejas e seus membros não devem realizar caças às bruxas. Viva a
liberdade religiosa!