A janela bêbada de neblina abre-se para uma cidade que uiva como cães perdidos ao verem sepultados os seus donos. Nesse ambiente nebuloso, movem-se centenas de personagens noturnos, cujos olhos são tão tristes como as manhãs das sextas-feiras da paixão vividas na minha infância. A Avenida São João conta a triste saga dos cães perdidos. Bem mais triste do que a saga contada por Graciliano Ramos em seu livro “Vidas Secas”. Vidas secas são as dos personagens dessa noite, aonde só a neblina vem aliviar-lhes a dor e molhar a solidão. Vidas secas, folhas secas tangidas pelo vento somos nós, andando ou não, amando ou não.
A janela fecha-se para a noite enquanto a folha seca e úmida de neblina segue rolando pela calçada. A noite geme como um moinho de vento.