José Andrade

INTRODUÇÃO

A cultura é constituída pelo comportamento baseado na interação de pessoas, ou seja, o resultado da interação de grupos de trabalhos, cujos valores dominantes são apreendidos a partir da natureza dessa cultura mediante seus próprios depoimentos diretos, que são expressos em suas obras ou em declarações explícitas de seus produtores.

Segundo Eliade (1989), esse aspecto mostra que embora tenha evoluído a sociedade moderna, ainda não superou seus mitos, como proposto numa visão iluminista do progresso humano, a sociedade moderna apenas mudou os aspectos e formas de difusão dessa evolução.

Sobre esse aspecto, Munz (1997, p. 56), quando questiona sobre essa visão iluminista da humanidade, ligou essas teorias sobre cultura, em três grupos distintos: “Teorias que justificam o projeto iluminista; as teorias que vêem as culturas como fenômenos que servem determinados propósitos; e as teorias baseadas no entendimento incorreto da biologia e do darwinismo”.

Para o primeiro grupo, a cultura é entendida como um conjunto de regras em gradual mudança. Para aqueles do segundo grupo, que a concebem para atender determinados propósitos, esta é relacionada ao objetivo de viabilizar a vida humana. Esse objetivo é alcançado de formas diferentes. A terceira corrente teórica tem como base o neodarwinismo e faz a afirmação de que os seus elementos consistem em extensões dos hábitos dos primatas (MUNZ, 1997).

Da genética à questão normativa, percebe-se não existir unanimidade sobre esse tema, o que nos leva a crer, diante das afirmações dos autores supra citados, que a cultura da organização é um produto da construção social da realidade (MATURANA, 1998; MORGAN, 1996). E, ainda, deixa transparecer que a perspectiva de que essa cultura organizacional, sendo uma construção social é influenciada por muitas interações complexas entre as pessoas, situações, ações e circunstâncias gerais.

Neste cenário, as constantes transformações e os efeitos da globalização fazem com que as organizações sociais atuem vislumbrando o amanhã. Dentro desse pressuposto, a cultura constitui uma questão central para a construção do futuro, principalmente quando esta pode influenciar no processo de mudança cultural, pois que a base da cultura se assenta na antropologia cultural (FREITAS, 1991).

Anteriormente, a cultura era tida como um complexo coletivo feito de representações mentais – os indivíduos – que se ligavam do imaterial ao material (AKTOUF, 1994). Neste caso, Pettigrew (1979, p. 574 apud CAVEDON, 2003, p. 55), define cultura como:

[...] um sistema de significados que, geralmente são aceitos no âmbito público e na coletividade por um determinado grupo em um determinado espaço de tempo. Esse sistema de termos que se inclui as formas, as categorias e as imagens buscam interpretar para as pessoas as suas próprias situações.
Ou seja, a concepção é de que a partir do momento em que o homem cria cultura este é influenciado e, consequentemente, criado pela mesma, tornando-se, portanto, uma via de mão dupla. Sob esse enfoque, Tavares (1993 apud Cavedon, 2003, p. 56), refere-se à especificidade, onde afirma que: “a especificidade de cada cultura é a identidade da mesma, a marca característica de cada sociedade, legitimada e reconhecida tanto interna como externamente”.

Assim, este artigo objetiva-se a tecer, breves linhas, sobre as acepções conceituais de cultura.

A metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa consistiu na pesquisa bibliográfica de autores renomados que tratam da temática, com a finalidade, através da descrição dos pontos de vistas e posicionamento dos mesmos, de chegar a uma conclusão ampliada da discussão.

ENTENDENDO A CULTURA COMO PRINCÍPIO NORTEADOR DA CONCEPÇÃO HISTÓRICA

Para Edward Tylor (1871 apud VELHO, 1999, p. 39): “Cultura é o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”. Entende-se que o homem é um ser predominantemente cultural.

Graças à cultura, ele superou suas limitações orgânicas. O homem conseguiu sobreviver através dos tempo com um equipamento biológico relativamente simples. Como outros exemplos citados anteriormente, têm-se que um esquimó que deseje morar num país tropical, adapta-se rapidamente, ele substitui seu iglu e seus grossos casacos por um apartamento refrigerado e roupas leves – enquanto o urso polar não pode adaptar-se fora de seu ambiente.

Complementando, Velho (1999, p. 41) afirma que: A cultura é o meio de adaptação do homem aos diferentes ambientes. Ao invés de adaptar o seu equipamento biológico, como os animais, o homem utiliza equipamentos extra-orgânicos. Por exemplo, a baleia perdeu os membros e os pêlos e adquiriu nadadeiras para se adaptar ao ambiente marítimo. Enquanto a baleia teve que transformar-se ela mesma num barco, o homem utiliza um equipamento exterior ao corpo para navegar.

Daí, a afirmativa de que a cultura é um processo acumulativo. O homem recebe conhecimentos e experiências acumulados ao longo das gerações que o antecederam e, se estas informações forem adequadas e criativamente manipuladas, permitirão inovações e invenções. Assim, estas não são os resultados da ação isolada de um gênio, mas o esforço de toda uma comunidade (MEDEIROS; ENDE, 2005).

A palavra cultura percorreu um longo caminho até adquirir um sentido sistemático de uma diversidade de maneiras de viver. Cultura é palavra de origem latina e em seu significado original está ligada às atividades agrícolas. Vem do verbo latino “colere”, que quer dizer cultivar. Pensadores romanos antigos ampliaram esse significado e a usaram para se referir ao refinamento pessoal, e isso está presente na expressão "cultura da alma". Como sinônimo de refinamento, sofisticação pessoal, educação elaborada de uma pessoa, cultura foi usada constantemente desde então e o é até hoje.

Numa nova visão de cultura, no século XIX a preocupação com a cultura se generalizou como uma questão científica; foi a partir de então que as ciências humanas passaram a tratar sistematicamente da cultura. No século XIX uma visão não-religiosa tornou-se dominante do mundo social e da vida humana. Até então o cristianismo tivera força para se impor na definição de práticas e comportamentos. A ruptura com essa visão religiosa se fez através de preocupações com o entendimento da origem e transformação da sociedade e também das espécies de vida. As preocupações sistemáticas com a cultura nasceram associadas a novas formas de conhecimento.

Mas, o termo cultura segundo, o Novo Dicionário da língua portuguesa (2000, p. 508), significa: Ato, efeito ou modo de cultivar; padrões complexos de comportamento, de crenças, de instituições e de outros valores espirituais que são transmitidos de forma material na coletividade em detrimento das características evidenciadas em uma sociedade.

Porém, no final do século XVIII e no princípio do século XIX, utilizava-se em larga escala o termo germânico Kultur com a finalidade de simbolizar todos os aspectos espirituais envolvidos em uma determinada comunidade, enquanto o conceito e entendimento que se tinha da palavra francesa Civilization se referia principalmente às realizações materiais de um povo.

Mais tarde Edward Tylor (1832-1917) sintetizou os dois termos no vocábulo inglês Culture, que passou a ter outra conotação: um amplo sentido etnográfico visando a inclusão de todo um complexo de aspectos que envolvia conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, pautados em costumes, bem como em qualquer outra capacidade, incluindo hábitos que são adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
Segundo Laraia (1997, p. 25), a abrangência do termo “Culture”, definida por Tylor, relaciona-se diretamente com a possibilidade em que o ser humano tem em realizar-se, onde: Como a definição, acima apresentada, Tylor abrange em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar de forma efetiva e forte o caráter que envolve o aprendizado da cultura em oposição a idéia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos.

O estudo da cultura tem sido desenvolvido levando em conta a concepção científica da cultura significativa. A cultura significativa tenta de forma clara mostrar os processos evolutivos do homem e conseqüentemente da sua cultura, no entanto, por estar atrelada ao homem, torna-se complexa, pois este tem procurado a complexidade e a tem encontrado em uma escala grandiosa, desta forma, os antropólogos buscam a ordenação desse desenvolvimento (GEERTZ, 1989).

Entretanto, como esclarece Marilena Chauí (2006, p. 105): A cultura era, assim, a intervenção deliberada e voluntária dos homens sobre a natureza de alguém para torná-la conforme aos valores de sua sociedade. Dessa perspectiva, a cultura era a moral (o sistema de mores ou de costumes de uma sociedade), a ética (a forma correta de conduta de alguém graças a modelagem de seu ethos natural pela educação) e a política (o conjunto de instituições humanas relativas ao poder e à arbitragem dos conflitos pela lei.

Nesse primeiro sentido cultura e natureza não se opõem, pelo contrário, a cultura é uma segunda natureza adquirida que se sobrepõe à natureza inata dos homens. Entretanto, já no século XVIII o termo ganha um novo sentido, cultura passa a ser o conjunto da obra humana e a relação dos homens, em sociedade com o tempo e o espaço. Cultura passa a ser sinônimo de História – os homens no tempo – e da transformação racional que eles provocam na natureza.

A cultura entendida como História passa a representar o aprimoramento e aperfeiçoamento da humanidade, até porque a própria noção de História até meados do Século XX é vinculada à idéia de progresso (CHAUÍ, 2006).Essa aproximação entre cultura, história e progresso deixa de se sustentar na segunda metade do século passado quando todo o “progresso”, todo aprimoramento advindo da obra humana foi empenhado em práticas de extermínio em massa em dois conflitos de proporções mundiais. O resultado é uma crise epistemológica que vai assolar as ciências humanas em geral, inclusive a História e a Antropologia tornando-se necessário uma nova definição do que seria a cultura e do que diferencia uma cultura de outra afastada das noções de evolução e progresso, em detrimento à perspectiva humanista.

Essa perspectiva, de acordo com Geertz (1989, p. 25), enuncia que: A perspectiva iluminista do homem era, naturalmente, a de que ele constituía uma só peça com a natureza e partilhava da uniformidade geral de composição que a ciência natural havia descoberto sob o incitamento de Bacon e a orientação de Newton.

Complementando, Geertz (1989), afirma haver uma natureza humana tão regulada e organizada, tão perfeitamente invariante e tão maravilhosamente simples como o universo criado por Newton , mesmo que as leis sejam diferentes, mas, parte da imutabilidade talvez seja obscurecida pelas armadilhas da moda local.

Assim, a cultura no contexto social, busca durante sua evolução, acompanhar as várias mudanças ocorridas em seu ambiente. Pois, como afirma o mesmo autor, Geertz (1989, p. 28): As tentativas de localizar o homem no conjunto dos seus costumes assumiram diversas direções, adotaram táticas diversas; mas, todas elas, ou virtualmente todas, agiram em termos de uma única estratégia intelectual ampla [relacionadas] à concepção ‘estratigráfica’ das relações entre fatores biológico, psicológico, social e cultural na vida humana.

Assim, como mencionado anteriormente, os fatos culturais não podiam ser interpretados contra o pano de fundo dos fatos não-culturais, entretanto, sem dissolvê-los no pano de fundo da visão antropológica, sociológica, psicológica e biológica, que numa análise cultural, geralmente, debate-se com inatas dualidades: culturalismo e relativismo, particularismo e universalismo. Daí a importância e utilidade das teorias dos princípios e das restrições nos direitos fundamentais, porque ajudam a dirimir conflitos no caso concreto.

Mas, percebe-se, contudo, que o desenvolvimento da humanidade está marcado por contatos e conflitos entre modos diferentes de organizar a vida social, de se apropriar dos recursos naturais e transformá-los, de conceber a realidade e expressá-la. A história registra as transformações porque passam as culturas, seja movida por suas forças internas, seja em conseqüência desses contatos e conflitos, mais freqüentemente por ambos os motivos. São complexas as realidades dos agrupamentos humanos e as características que os unem e diferenciam, e a cultura as expressa.

A cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se consideram as culturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a sua grande variação. Nesse cenário, cada lógica cultural tem sua lógica interna. As variações nas formas de família, por exemplo, ou nas maneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho fazem sentido para os agrupamentos humanos, são resultado de sua história e relacionam-se com as condições materiais de sua existência.

Dentro desse contexto, pode-se dizer que a cultura é a esfera geral do conhecimento e das representações do vivido na sociedade histórica, tendo em vista que envolve todo o acervo de valores e hábitos que marcam a condição humana. Um conjunto de atributos que se projeta para diferentes variáveis comportamentais. Existem valores, hábitos, objetos e comportamentos genéricos que dão um certo “ar de família” cultural a uma sociedade, grupo humano, região ou comunidade.

No entanto, para Silva (2001, p. 30), as questões culturais estão relacionadas diretamente com a concepção antropológica, onde: Hoje, podemos identificar uma concepção antropológica de cultura como um conjunto de bens, utensílios, práticas, leis, normas morais, hábitos, crenças, costumes partilhados por um determinado grupo, sem a existência de um padrão comparativo que qualifique uma ou outra cultura como mais ou menos evoluída e uma concepção semiótica que deriva das contribuições que a Filosofia deu ao tema. Ou seja, que vai entender a cultura como o campo das formas simbólicas “produzidas em condições históricas determinadas”.

À luz de uma compreensão desprendida de pré conceitos, entende-se a cultura como ordem simbólica por cujo intermédio homens determinados cumprem de maneira determinada suas relações com a natureza entre si e com o poder, bem como a maneira pela qual interpretam essas relações, podendo esta ser conceituada, portanto, como sistema de relações e sentidos em um dado momento histórico.

Toda essa exposição se deve à necessidade que temos de, desde já, estabelecer que a concepção semiótica de cultura da qual será aquela adotada pelos indivíduos sociais de agora em diante. Isso porque, a cultura como conjunto de objetos, utensílios, práticas, costumes, na sua abrangência antropológica que vise fundamentar sua legitimidade, que para Silva (2001, p. 32)?

A cultura é, pois um fato a três dimensões: aos objetos físicos se conferem significações, que partem de sujeitos (seus criadores ou receptores), que entre si, por causa ou em conseqüência dessas significações, estendem uma teia de inter-relações sociais.

Tem-se, então, que criar cultura, no fundo, consiste em transformar realidades naturais ou sociais, mediante os valores impregnados na própria sociedade, que, o mesmo autor, Silva (op.cit.), complementa que dão vida aos objetos sociais, compreendidos como:
a) valores vitais, que dão origem aos modos de viver e cultivar o corpo, o bem estar;
b) valores de utilidade, que dão origem a modos de criar e fazer, surgindo daí objetos culturais: tipos de comida, habitação, objetos domésticos, vestuário, instrumentos de sua criação, utensílios e ferramentas;
c) valores espirituais: estéticos que criam objetos culturais artísticos pela pintura, escultura, arquitetura, música, dança, religião que recaem na criação de objetos culturais sagrados, compreendidos como éticos (morais, jurídicos), que delimitam o comportamento e a conduta necessários à convivência social.

É assim, que Silva (2001) ao referir-se à concepção semiótica da cultura afirma que esta não deixa de ser uma forma filosófica de conceber a cultura, que advém de vários outros conceitos até à simbologia para a compreensão constitucional da cultura que termina por enriquecer a visão semiótica que se afina com uma visão de concepção culturalista da cultura que se baseia no culturalismo jurídico, que leva em conta a contribuição maxista, que se tem na dialética do processo cultural a explicação das relações entre cultura e natureza.

À luz das diversas definições sobre cultura é que Tavares (1993, p. 72) relaciona alguns aspectos da mesma aceitos entre os antropólogos:
- a cultura é parte da biologia do homem;
- a biologia da espécie humana é produto da cultura;
- a cultura não é transmitida geneticamente, mas socialmente através da aprendizagem;
- a capacidade de aprender, desenvolver e criar cultura é transmitida hereditariamente;
- a cultura é o mecanismo adaptativo por excelência da espécie humana, responsável por sua sobrevivência, desenvolvimento e evolução;
- a cultura é socialmente produzida: embora os indivíduos sejam os portadores da cultura, tal comportamento só é possível num processo conjunto, coletivo;
- a interação com o meio ambiente, na espécie humana, é feita através do aparato cultural.

Diante dessas definições, Durhan (apud FLEURY, 1987), diz que:
Os antropólogos tenderam sempre a conceber os padrões culturais, mas não consideravam como um modelo de reprodução de condutas compreendidas como idênticas, tendo em vista que anteriormente estas eram compreendidas como as regras de um jogo.

O entendimento que se tem é de que a concepção dos padrões de cultura advém de uma estrutura que permite atribuir significado em determinadas ações em detrimento às infinitas partidas que são jogadas, tendo em vista que essa definição é considerada interessante pelo fato de colocar a cultura organizacional como um elemento chave para compreender o caráter dinâmico de uma organização, aspecto fundamental para sua sobrevivência. Sabe-se que a cultura é concebida como uma construção própria e social e relacionada com o meio ambiente. Isto é, a cultura é aprendida, transmitida, modificada e o seu processo de formação é idêntico ao dos grupos sociais em termos da criação de uma identidade grupal.

Neste sentido, para Barbosa (1996, apud CAVEDON, 2003, p. 52), os antropólogos: “tentam recuperar uma certa visão endógena do fazer em sociedade, historicamente atrelado aos conhecimentos produzidos no exterior”. Mas, apesar das conceituações apresentarem nuances e diferenças, Cavedon (2003, p. 53), afirma que:

Em um aspecto parece ter havido certo consenso entre os estudiosos, que é o de atrelar a cultura ao condicionamento dos integrantes de uma dada organização no que tange às ações e aos comportamentos socialmente aceitos pela mesma.

Anteriormente, a cultura era tida como um complexo coletivo feito de representações mentais – os indivíduos – que se ligavam do imaterial ao material (AKTOUF, 1994). Neste caso, Pettigrew (1979, p. 574 apud CAVEDON, 2003, p. 55), define cultura como:

[...] um sistema de significados que, geralmente são aceitos no âmbito público e na coletividade por um determinado grupo em um determinado espaço de tempo. Esse sistema de termos que se inclui as formas, as categorias e as imagens buscam interpretar para as pessoas as suas próprias situações.

Ou seja, a concepção é de que a partir do momento em que o homem cria cultura este é influenciado e, consequentemente, criado pela mesma, tornando-se, portanto, uma via de mão dupla. Sob esse enfoque, Tavares (1993 apud Cavedon, 2003, p. 56), refere-se à especificidade, onde afirma que: “a especificidade de cada cultura é a identidade da mesma, a marca característica de cada sociedade, legitimada e reconhecida tanto interna como externamente”.

Motta (1997); Caldas et al (1997, p. 19), relaciona a cultura nacional, enfatizando que: “os pressupostos básicos, os costumes, as crenças e os valores, incluindo os diversos artefatos que buscam caracterizar o conceito de cultura relacionado a todo um contexto social”.

Em suma, a maioria dos autores, estudiosos no assunto, afirmam que a cultura está relacionada com valores, crenças, atitudes, comportamentos que se traduzem em ações a partir do contexto antropológico evidenciado na sociedade. Contudo, de posse do entendimento que existe uma diversidade das culturas e que esta acompanha a variedade da história humana, consequentemente, expressa possibilidades de vida social organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a natureza.

Em termos gerais, os valores animológicos da cultura referem-se a todas as dimensões de reagibilidades, experiências vividas e conhecimentos acumulados no cérebro das pessoas. O conceito diz respeito a tudo aquilo que cada indivíduo conseguiu resguardar na mente, desde a infância até a maturidade, envolvendo um acervo particular de experiências, meditações, receios e ousadias, elucubrações, valores positivos e negativos, moralidade, espírito ético e capacidade de sublimação (CHAUÍ, 2006).

Enfim, é um "estoque" de valores e conhecimentos que se projeta em comportamentos, hábitos e reações. A história, que cria a autonomia relativa da cultura e as ilusões ideológicas quanto a esta autonomia, exprime-se também como história da cultura. E toda a história conquistadora da cultura pode ser compreendida como a história da revelação da sua insuficiência, como uma marcha para a sua auto supressão (SILVA, 2001).

Essa auto supressão adveio da diversidade cultural brasileira é repleta de significações e representações possíveis de serem percebidas, desde que os movimentos sociais ganharam as ruas, aqueles, representantes desta pluralidade, tais como as feministas, os negros, os homossexuais, a arte das favelas, a luta dos portadores de necessidades especiais, as comunidades indígenas e os quilombolas.

Toda esta diversidade ganhou as ruas porque se transformou em reivindicação, em lutas e ganhos das minorias, descaracterizando-se como movimentos particulares para lançarem-se à sociedade como um todo, à procura de reconhecimento público, mesmo que este ainda não seja sentido no concreto da vida comunitária.

Este pluralismo de idéias, comportamentos e sentimentos que estão nas ruas, distorcidamente se fazem presentes na mídia, naquela representante do pensamento liberal, que passa a idéia de que a riqueza do multiculturalismo brasileiro é plenamente absorvida por toda a sociedade, principalmente quanto as etnias, o que não é verdade.

CONCLUSÃO

Ao final dessa breve discussão acerca das acepções conceituais de cultura percebeu-se que esta, de certa forma, formata o comportamento das pessoas e é formada pelas pessoas internas, pela ética da organização, pelo seu tipo de estrutura e pelos direitos dos empregados, evoluindo e podendo ser gerenciada pelo desenho organizacional, através de algumas manifestações e práticas de processos inconscientes. E, consequentemente, a cultura influencia o comportamento social e diversifica a humanidade, apesar de sua comprovada unidade biológica, onde quanto mais ocorrem mudanças na cultura mais serão exigidas também mudanças a nível pessoal.

E, nesse contexto, pode-se inferir que a cultura não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções, como por exemplo, se poderia dizer da arte. Não é apenas uma parte da vida social, como por exemplo, se poderia falar da religião. Não se pode dizer que cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tenha a ver com a realidade onde existe. Cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social.

Cultura é uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo da vida humana. A riqueza cultural e suas relações nos fazem pensar na natureza dos todos sociais de que fazemos parte, nos fazem indagar das razões da realidade social de que partilhamos e das forças que as mantêm e as transformam. Evidencia-se, então, a necessidade de relacionar as manifestações e dimensões culturais com as diferentes classes e grupos que a constituem. Trata-se de uma incursão enriquecedora ao campo dos atributos essenciais da condição humana, no planeta vivente por excelência, que é resultado de uma concepção da política cultural.

Cada lógica cultural tem sua lógica interna. As variações nas formas de família, por exemplo, ou nas maneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho fazem sentido para os agrupamentos humanos, são resultado de sua história e relacionam-se com as condições materiais de sua existência, a partir de suas representações do vivido na sociedade histórica, tendo em vista que envolve todo o acervo de valores e hábitos que marcam a condição humana. Um conjunto de atributos que se projeta para diferentes variáveis comportamentais

REFERÊNCIAS

AKTOUF, Omar. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições empíricas. In: CHANLAT, Jean François (org.). O indivíduo nas organizações: dimensões esquecidas. São Paulo, Atlas, 1994. v.2. p.39-79.
BEYER, J. M.; TRICE, H. Studying organizations as culture through rites and ceremonials. Academy of management review. 1986.
CALDAS, Miguel. Santo de casa não faz milagre. In: MOTTA, Fernandes C. Prestes, CALDAS, Miguel P. (orgs.). Cultura Organizacional e Cultura Brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. p. 73-91.
CAVEDON, Neusa Rolita. Antropologia para administradores. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
CHAUÍ, Marilena. Cidadania Cultural: O Direito à Cultura. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006.
FLEURY, Maria Tereza Leme; FISCHER, Rosa Maria. Estória, mitos, heróis: cultura organizacional e relações de trabalho. Revista de Administração de Empresa. São Paulo, out./dez. 1987.
FREITAS, M. E. de. Cultura: formação, tipologia e impacto. São Paulo: Makron McGraw-Hill, 1991.
GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1989.
LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 1995.
LAPLATINE, François. O que é imaginário? Col. Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1995.
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
MOTTA, Fernando C. Prestes. Cultura e organizações no Brasil. In: MOTTA, Fernando C. Prestes e CALDAS, Miguel. (org) Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997
SILVA, José Afonso da. Ordenação Constitucional da Cultura. São Paulo: Malheiros, 2001.
TAVARES, Maria das Graças de Pinho. Cultura: uma abordagem Antropológica da Mudança. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1993.
VELHO, Gilberto. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 5. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,



0 comentários:

Postar um comentário