Um poema de José Andrade
Por que as revelações vindas do céu dos meus pensamentos me deixaram internamente abatido, esmorecido, vencido, inerte e resignado a um lugar sombrio e melancólico? Na noite calma e mansa da cidade, uma luz apagou-se dentro de mim, uma voz calou-se, talvez para sempre, talvez apenas por um minuto. Estou resignado ao lugar daqueles que amam, dos que ousam arriscar-se, dos que se ocupam de viver. Sim, porque viver é arriscar-se a semear na escuridão da terra arida do deserto das meias verdades.
Não foram os espinhos da estrada, nem os paralepipedos da calçada que feriram-me os pés. Foram os revezes de cada momento, principalmente dos que não se apagam e ficam gravados a ferro e a fogo no memorial da minha vontade. Ergo os braços em vão, enquanto o chão se dilui em sonhos. A vida vai me sumindo, me enganando, me desarrumando e me decifrando como se eu fosse um mapa marítimo. Feri-me, feriram-me mãos e pés, enquanto eu debalde lutei comigo, tentando livrar-me de mim.